Divina Providência #262

By Emanuel Swedenborg

Study this Passage

  
/ 340  
  

262. (i.) Pode-se levantar dúvida contra a Divina Providência pelo fato de que todo o mundo cristão adora ao Deus uno sob três Pessoas, isto é, três Deuses, e por ter-se ignorado até aqui que Deus é Um em Essência e Pessoa, na qual está a Trindade, e que esse Deus é o Senhor. Aquele que raciocina sobre a Divina Providência pode dizer: "As três Pessoas não são três Deuses quando cada Pessoa por si é um Deus? Quem pode pensar de outro modo? E, mesmo, quem pensa de outro modo? O próprio Atanásio não o pôde, pois na Fé do credo que tem o seu nome, disse: 'Embora pela verdade cristã devamos reconhecer que cada Pessoa é Deus e Senhor, contudo não nos é permitido pela fé cristã dizer ou nomear três Deuses ou três Senhores'". Daí não se entende outra coisa senão que devemos reconhecer três Deuses e Senhores, mas que não nos é permitido dizer ou nomear três Deuses e três Senhores.

[2] Quem pode jamais perceber um Deus único a não ser que também seja uma única Pessoa? Se se diz que se pode perceber, quando se pensa que há uma essência para os três, quem é que daí percebe ou pode perceber alguma coisa a não ser que são, assim, unânimes e estão em concordância, mas são, não obstante três Deuses? E, se pensa com mais elevação, diz consigo mesmo: "De que maneira a essência Divina, que é infinita, pode ser dividida? E de que maneira ela pode de eternidade gerar uma outra e, ainda mais, produzir uma outra que proceda de um e outro?" Diz-se que se deve crer e não pensar nisso; mas quem não pensa no que lhe dizem para crer? De que outro modo existe o reconhecimento, que é a fé em sua essência? Não é do pensamento sobre Deus como três Pessoas que nasceu o socinianismo e o arianismo que reinam no coração de muitos, mais do que se imagina? A fé no Deus único e em que Ele é o Senhor é que faz a igreja, porque n'Ele está a Trindade Divina. Que seja assim, vê-se na Doutrina da Nova Jerusalém sobre o Senhor, do princípio ao fim.

[3] Mas, quem hoje em dia pensa sobre o Senhor? E quem pensa que Ele é Deus e Homem, Deus por JEHOVAH o Pai, de Quem foi concebido, e Homem pela virgem Maria, de quem nasceu? Quem pensa que Deus e Homem n'Ele, ou o Divino e o Humano n'Ele sejam uma só Pessoa, assim como a alma e o corpo são um só? Acaso alguém sabe isso? Interroga os doutores da igreja e dirão que não o sabem, quando, todavia, isso vem da doutrina da igreja aceita em todo o mundo cristão, a saber:

"O nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e Homem. E ainda que seja Deus e Homem, todavia não são dois, mas um só Cristo. É um, porque o Divino tomou para Si o Humano. É absolutamente um, porque é uma só Pessoa. Porque, assim como a alma e o corpo fazem um só homem, também Deus e Homem fazem um só Cristo".

Isto está na Fé ou Credo de Atanásio. Que eles não saibam isso é porque, quando o liam, não tinham pensado sobre o Senhor como Deus, mas somente como um Homem.

[4] Se os mesmos doutores forem interrogados se sabem de quem Ele foi concebido, se foi de Deus Pai ou se foi de Seu Divino, responderão que foi de Deus Pai, pois isto é conforme a Escritura. Será, então, que o Pai e Ele não são um, como a alma e o corpo são um? Quem pode pensar que Ele tenha sido concebido de dois Divinos e, se o Divino é Seu, Ele seria Seu próprio Pai? Se os interrogares, ainda: "Qual é vossa ideia a respeito do Divino do Senhor e a respeito do Seu Humano?", dirão que o Seu Divino vem da essência do Pai, o Humano da essência da mãe, e que o Divino Mesmo está no Pai. E se então interrogares onde está o Seu Humano, nada responderão, porque separam na ideia Seu Divino de Seu Humano, fazendo o Divino igual ao Divino do Pai, e o Humano semelhante ao humano de outro homem. Não sabem que, assim, separam a alma do corpo, e não veem tampouco contradição aí, pois que assim teria nascido homem racional pela mãe, somente.

[5] Da ideia impressa a respeito do Humano do Senhor como semelhante ao humano de outro homem sucedeu que o cristão pode dificilmente ser levado a pensar no Divino Humano, ainda que se diga que a alma ou a vida do Senhor, por concepção, foi e é JEHOVAH Mesmo. Ajunta agora essas razões e examina se há algum outro Deus do universo a não ser o Senhor, somente, no qual o Divino Mesmo, do Qual procede, chama-Se Pai, o Divino Humano chama-Se Filho e o Divino Procedente chama-Se Espírito Santo; que, assim, Deus é um em Pessoa e Essência, e esse Deus é o Senhor.

[6] Se insistes, dizendo que o Senhor mesmo mencionou três, em Mateus:

"Ide e fazei discípulos a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28:19),

Ele disse isso para que se soubesse que n'Ele então glorificado estava a Trindade Divina, como é evidente pelo versículo que imediatamente precede e pelo que imediatamente segue ao citado. No que imediatamente precede, disse que a Ele foi dado todo poder no céu e na terra; e no que imediatamente segue, que Ele estaria com eles até à consumação do século. Assim, falou sobre Si somente, não sobre três.

[7] Agora, quanto à Divina Providência, por que motivo permitiu que os cristãos adorassem o Deus Uno sob três Pessoas, isto é, três Deuses, e o fato de até aqui terem ignorado que Deus é um em Pessoa e em Essência, no qual está a Trindade, e que esse Deus é o Senhor, a causa não está no Senhor, mas no homem mesmo. O Senhor ensinou isso claramente em Sua Palavra, como se pode ver por todas aquelas passagens que foram referidas na Doutrina da Nova Jerusalém sobre o Senhor, e também o ensinou na doutrina de todas as igrejas, na qual consta que o Divino e Seu Humano não são dois, mas uma só Pessoa, unidos como a alma e o corpo.

[8] Que, porém, tenham dividido o Divino e o Humano, fazendo o Divino igual ao Divino de JEHOVAH, o Pai, e o Humano igual ao humano de outro homem, a primeira causa disso é que a igreja, após seu surgimento, degenerou-se em Babilônia ao transferir para si o poder Divino do Senhor, mas, para que não se dissesse poder Divino, mas humano, fizeram o Humano do Senhor semelhante ao humano de outro homem. Em seguida, quando a igreja foi reformada e a fé, só, foi aceita como único meio de salvação, a saber, que Deus Pai teve misericórdia por causa do Filho, o Humano do Senhor não pôde ser considerado de outro modo. Se não o pôde é porque ninguém pode se dirigir ao Senhor e de coração reconhecê-Lo como Deus do céu e da terra, a não ser que viva segundo Seus preceitos. No mundo espiritual, onde cada um tem seu lugar conforme aquilo que pensa, ninguém pode sequer pronunciar "Jesus" se no mundo não viveu como cristão, e isso vem de Sua Divina Providência, para que Seu Nome não seja profanado.

  
/ 340  
  

Divina Providência, por Emanuel Swedenborg. Publicado em latim em Amsterdã no ano de 1764. Do latim Sapientia Angelica de Divina Providentia. Tradução: Cristóvão Rabelo Nobre, Revisão: Jorge de Lima Medeiros