34. (iii.) Quanto mais de perto o homem é conjunto ao Senhor, mais sábio se torna. Pois que há três graus de vida no homem por criação e, assim, desde o nascimento (de que se falou logo acima, n° 32), há principalmente três graus de sabedoria nele. Esses são os graus que são abertos no homem segundo a conjunção e abertos segundo o amor, pois o amor é a conjunção mesma. Mas a ascensão do amor ao segundo grau no homem não é percebida senão obscuramente, enquanto a ascensão da sabedoria se percebe claramente naqueles que sabem e veem o que é a sabedoria. A razão por que os graus de sabedoria são percebidos é porque o amor, pelas afeições, entra nas percepções e nos pensamentos, e estes se apresentam na vista interna da mente, que corresponde à vista externa do corpo. Assim é que a sabedoria aparece e não tanto a afeição do amor que a produz. Isto é semelhante a todas as coisas que efetivamente se passam no homem: observa-se de que modo são efetuadas pelo corpo, mas não de que maneira o são pela alma. Assim, também se percebe de que maneira o homem medita, percebe e pensa, mas não de que maneira a alma, que é a afeição do bem e do vero, as produz.
[2] Mas há três graus de sabedoria: natural, espiritual e celeste. No grau de sabedoria natural está o homem enquanto vive no mundo. Esse grau nele pode então ser aperfeiçoado até seu ponto máximo e, todavia, não pode entrar no grau espiritual, porque esse grau não é continuação do grau natural pelo contínuo, mas conjunto àquele por meio de correspondências. No grau de sabedoria espiritual está o homem após a morte, e esse grau também é tal que pode ser aperfeiçoado até seu ponto máximo, mas não pode, todavia, entrar no grau de sabedoria celeste, porque este grau não é continuação do espiritual pelo contínuo, mas conjunto àquele por meio de correspondências. Por aí se pode ver que a sabedoria pode ser elevada numa relação triplicada, e que cada um dos graus pode ser aperfeiçoado até seu máximo numa relação simples.
[3] Quem compreende as elevações e perfeições desses graus pode de algum modo perceber o que se diz a respeito da sabedoria angélica, a saber, que é inefável. Ela é também tão inefável que mil ideias do pensamento dos anjos provenientes de sua sabedoria não podem apresentar senão uma só ideia do pensamento dos homens por sua sabedoria; as outras novecentas e noventa e nove ideias do pensamento dos anjos não podem entrar, porque são supranaturais. Que isto seja assim, é o que me foi dado saber por viva experiência. Mas, como foi dito anteriormente, ninguém pode vir a essa sabedoria inefável dos anjos a não ser pela conjunção com o Senhor e segundo essa conjunção, pois somente o Senhor abre o grau espiritual e o grau celeste, mas somente naqueles que são sábios por Ele; e são sábios por Ele aqueles que rejeitam de si o diabo, isto é, o mal.