17. ELE O PRIMOGÉNITO DENTRE OS MORTOS significa: e que

éo Divino Bem Mesmo. Ninguém, até agora, sabe o que é “primogénito dentre os mortos”, e os antigos debateram quanto à sua significação.

Eles sabiam que pelo primogénito é significado o primeiro e o principal, de onde provém tudo da Igreja; e um grande número acreditava que era a verdade na doutrina e na fé, mas havia poucos que acreditavam que era a verdade no ato e na obra, a qual é o bem da vida. Que esse bem seja o que é o primeiro e o principal da Igreja e, por conseguinte, o que no sentido próprio se entende pelo “primogénito” é o que será visto. Mas será tratado primeiramente da opinião dos que creram que a verdade na doutrina e na fé é o primeiro e o principal da Igreja, assim o primogénito. Eles creram nisso, porque é isso que primeiro se aprende e porque a Igreja se torna Igreja pela verdade, mas não antes que a verdade se torne coisa da vida. Antes disso, a verdade está somente no pensamento do entendimento e na memória e não no ato da vontade. Ora, a verdade que não for a verdade em ato ou em obra não vive; ela é meramente como uma árvore viçosa em galhos e flores sem frutos, ou como a ciência sem aplicação aos usos, ou ainda como os alicerces em que não se edifica a casa em que se deve morar. Tais coisas são as primeiras no tempo, mas não as primeiras em objetivo; e as primeiras em objetivo são as principais; porque o primeiro no objetivo é a habitação na casa e o primeiro no tempo é o alicerce; o primeiro também no objetivo é o uso e o primeiro no tempo é a ciência.

Igualmente, o primeiro no objetivo, quando uma árvore é plantada, é o fruto, e o primeiro no tempo são os ramos e as folhas.

[2] Sucede o mesmo com o entendimento que a princípio é formado no homem, mas com o fim de o homem fazer o que ele vê pelo entendimento; de outro modo, o entendimento é como um pregador que ensina bem, mas vive mal. Além disso, toda a verdade é semeada no homem interno e radicada no homem externo; por isso, se a verdade semeada não for radicada no homem externo, e que se manifesta agindo, ele se torna como uma árvore não plantada no húmus, mas posta em cima da terra, a qual definha logo que o calor do sol se faz sentir. O homem que pratica as verdades leva consigo essa raiz depois da morte, mas não como indivíduo que as conheceu e reconheceu pela fé somente. Ora, muitos dos antigos fizeram o primeiro no objetivo, isto é, no principal, o que é o primeiro no tempo, e por isso disseram que o primogénito significa a verdade na doutrina e na fé da Igreja, não sabendo que essa verdade é o primogénito em aparência mas não em atualidade.

[3] Mas todos aqueles que fizeram da verdade na doutrina e na fé o principal foram condenados, porque nessa verdade não há coisa alguma do fato ou da obra, nem coisa alguma da vida. Foi por isso que Caim, que foi o primogénito de Adão e Eva, foi condenado. Que por ele é significada a verdade na doutrina e na fé vê-se no livro SABEDORIA ANGÉLICA SOBRE A DIVINA PROVIDÊNCIA (n. 242). É também por isso que “Rubem, que era o primogénito de Jacó, foi condenado por seu pai” (Gênesis 49:3, 4) e que “o direito de primogenitura lhe foi tirado” (1 Crónicas 5:1). Que a verdade na doutrina e na fé se entende por Rubem é o que se verá depois. Pelos “primogénitos do Egito”, que foram todos mortos, porque tinham sido condenados, não se entende, no sentido espiritual, outra coisa senão a verdade na doutrina e na fé, separada do bem da vida, verdade que em si própria

émorta. Pelos “bodes” em Daniel e em Mateus também só se entendem os que estão na fé separada da vida, dos quais se fala no opúsculo DOUTRINA DA NOVA JERUSALÉM SOBRE A FÉ (n. 61-68). Aqueles que estiveram na fé separada da vida foram rejeitados e condenados na época do Juízo Final, como se vê no livro CONTINUAÇÃO SOBRE O JUÍZO FINAL (n. 16 e seguintes).

[4] Por essas poucas explicações, pode-se estabelecer que a verdade na doutrina e na fé não é o primogénito da Igreja, mas sim a verdade em ato e em obra, a qual é o bem da vida, porque a Igreja não está no homem antes de a verdade tornar-se coisa da vida e, quando a verdade se torna coisa da vida, essa verdade é o bem. Com efeito, o pensamento do entendimento e a memória não fluem na vontade e pela vontade no ato, mas a vontade flui no pensamento do entendimento e na memória e atua; e o que procede da vontade pelo entendimento procede da afeição, que pertence ao amor per meio do pensamento que pertence ao entendimento, e tudo isso se chama bem e entra na vida. Por isso, o Senhor diz:

“Quem faz a verdade, em Deus a faz” (João 3:21).

[5] Como João representava o bem da vida e Pedro a verdade da fé (ver n. 5), por isso

“João repousou sobre o peito do Senhor e seguiu a Jesus, o que Pedro não fez” (João 21:18-23).

“O Senhor também disse de João que ele permaneceria até que Ele viesse” (versículos 22, 23), e assim até o dia de hoje, que é o advento do Senhor. Eis também porque agora é ensinado pelo Senhor o bem da vida àqueles que são de Sua Nova Igreja, que é a Nova Jerusalém. Em suma, o “primogénito” é aquilo que a verdade derivada do bem produz primeiramente, assim o que o entendimento derivado da vontade produz primeiramente, porque a verdade pertence ao entendimento e o bem pertence à vontade; este primeiro, porque é como a semente, da qual procede todo o resto é o principal.

[6] Quanto ao Senhor, Ele Mesmo é o Primogénito dentre os mortos, porque Ele também, quanto a Seu Humano, é a Verdade Mesma unida ao Divino Bem, de Quem vivem todos os homens, que em si mesmos são mortos. Coisa semelhante é entendida em David:

“Eu O farei primogénito, elevado sobre os reis da terra” (Salmo 89:27).

Isto é dito do Humano do Senhor. Daí vem que Israel é chamado primogénito (Êxodo 4:22). Por “Israel” se entende a verdade em ato e por “Jacob” a verdade em doutrina; e, como a verdade em doutrina não faz igreja alguma, é por isso que Jacob foi chamado Israel.

[7] No sentido supremo, por “Israel” é entendido o Senhor. Por causa da representação de “primogénito”, “todos os primogénitos e todas as primícias eram consagradas a Jehovah (Êxodo 13:2, 12, e 22:28, 29). Por causa dessa representação, os levitas eram tomados como primogénitos em lugar de todos os primogénitos da Igreja Israelita e é dito que, assim, eles pertenciam a Jehovah (Números 3:12, 13, 40-46, 18:15-18), porque por “Levi” é significada a verdade em ato, a qual é o bem da vida, e por isso o sacerdócio foi dado à sua posteridade, como se ver á depois. Por essa razão também, uma dupla porção da herança era dada ao primogénito e se chamava o “princípio da força” (Deuteronômio 21:15-17).

[8] O primogénito significa o principal da Igreja, porque, na Palavra, pelos nascimentos naturais são significados os nascimentos espirituais e, então, o que primeiro os faz no homem é entendido pelo seu “primogénito”. Com efeito, a Igreja não está nele antes de a verdade da doutrina, concebida no homem interno, nascer no homem externo.